Com muita tristeza o mundo lusofono e futebolista tomou notícia do falecimento de um dos maiores futebolistas que já pisaram um relvado de futebol.
Mario Esteves Coluna seguiu assim para o destino do seu colega e amigo Eusébio, que há pouco mais que um mês tinha falecido.
Sem dúvida nenhuma, Coluna, o Monstro Sagrado como foi chamado, foi um dos muito poucos jogadores que subiram ao Olimpio desportivo e ajudaram a cimentar o nome do Benfica como um dos maiores nomes do Futebol neste mundo.
Com 525 jogos oficiais ele foi apenas superado por Néné e Veloso. No número de épocas no Benfica já é o segundo melhor com 17. Mas em número de títulos ele é o melhor sucedido, com 19.
Ele deixa uma vaga nos corações de todos Benfiquistas, que mal se pode explicar. A dor que muitos de nós sentem pela sua partida é de tal maneira que a década mais gloriosa do clube, que ele representou, poderá tornar se cada vez mais história e a possibilidade de se repetir, cada vez mais distante. Tal como o Sr. Coluna. Mas viverá eternamente nos nossos corações
Deixo aqui um texto, que foi públicado no site da FIFA, já que pouco mais se pode acrecentar:
O Alto-Mahé tem algo de especial. Foi nesse bairro de Lourenço Marques, atual Maputo, capital de Moçambique,
que nasceram grandes nomes do futebol como Matateu, Vicente e Hilário e
também foi aí que cresceu um jovem chamado Mário Esteves Coluna, que se viria a tornar num dos melhores futebolistas portugueses de todos os tempos.
Filho
de pai português e mãe moçambicana, o jovem Mário não demorou a mostrar
grandes capacidades físicas e queda para o desporto. Em pequeno, era
perito a trepar árvores para apanhar manga ou caju e, por isso, ouvia
muitas reprimendas do pai, antigo guarda-redes e um dos fundadores do
clube Desportivo de Lourenço Marques.
E foi no Desportivo que Coluna
abraçou o desporto. No basquetebol não passou da equipa de reservas,
mas surpreendeu no atletismo, tornando-se recordista nacional do salto
em altura. Porém, a glória estava guardada para dentro das quatro
linhas, para um avançado que, ainda adolescente, chamou a atenção dos
três grandes clubes portugueses.
Tinha sido
impedido de jogar pelo Desportivo de Lourenço Marques numa digressão à
África do Sul, por causa das leis do apartheid, mas no duelo da segunda
mão, em casa, vingou-se e marcou os sete golos da vitória da sua equipa.
Nada mau para um miúdo de 17 anos. Tão bom que recebeu, pouco depois,
uma proposta do FC Porto, seguindo-se o Sporting, que dobrou o valor da
oferta, mas a vontade do pai e o facto do Desportivo de Lourenço Marques
ser uma filial do Benfica traçaram-lhe o destino. E que destino...
Um passo atrás, dois em frente
Em 1954, com 19 anos, chega a Lisboa depois de uma incrível viagem de avião que durou qualquer coisa como 34 horas e que o levou até ao Lar do Jogador do Benfica, onde ficavam a viver os jogadores que não tinham casa própria. Coluna não gostou e os primeiros tempos não foram fáceis.
Em 1954, com 19 anos, chega a Lisboa depois de uma incrível viagem de avião que durou qualquer coisa como 34 horas e que o levou até ao Lar do Jogador do Benfica, onde ficavam a viver os jogadores que não tinham casa própria. Coluna não gostou e os primeiros tempos não foram fáceis.
Tinha
chegado com rótulo de estrela, mas ainda demorou um pouco a convencer o
então técnico do Benfica, Otto Glória. Afinal, para a posição de
ponta-de-lança já existia José Águas, mas o treinador brasileiro viu
mais longe. Percebeu as qualidades de passe e a forte presença em campo
do jovem e apostou que Coluna poderia vir a ser um grande médio. Aposta mais que ganha.
A
estreia com a camisola encarnada aconteceu num amigável com o FC Porto
e, no primeiro jogo oficial para o campeonato português, o ainda
adolescente mostrou para o que vinha. Marcou dois golos na goleada (5-0)
contra o Setúbal, os primeiros de muitos que viria a assinar durante as
16 épocas consecutivas que representou a equipa lisboeta, pela qual fez
677 jogos e marcou 150 golos oficiais.
E se os números não dizem tudo, os títulos mostram bem o que Coluna
conseguiu no Benfica. Até 1954/55, o Sporting dominava o futebol
português, mas nas 16 épocas que se seguiram o Benfica somou nada mais
nada menos do que dez títulos nacionais e seis Taças de Portugal, além de atingir a glória europeia, com Coluna a marcar um dos golos na conquista da primeira Taça dos Campeões Europeus, em 1960/61, frente ao Barcelona.
Coluna não, Senhor Coluna
Quando, no final de 1960, chegou a Lisboa mais um jovem vindo de Moçambique, já Coluna era uma das grandes figuras do Benfica campeão europeu. Esse jovem também era natural de Lourenço Marques e dava pelo nome de Eusébio da Silva Ferreira. Chegou à capital portuguesa jovem, tímido e com uma carta no bolso para entregar a Coluna.
Quando, no final de 1960, chegou a Lisboa mais um jovem vindo de Moçambique, já Coluna era uma das grandes figuras do Benfica campeão europeu. Esse jovem também era natural de Lourenço Marques e dava pelo nome de Eusébio da Silva Ferreira. Chegou à capital portuguesa jovem, tímido e com uma carta no bolso para entregar a Coluna.
Afinal, as famílias de Coluna e Eusébio conheciam-se de Lourenço Marques e a mãe do Pantera Negra, preocupada com o bem-estar do filho em Lisboa, escreveu a Coluna
a pedir que olhasse pelo jovem Eusébio. Foi o que fez aquele que, até
hoje, se considera o “padrinho” de uma dos maiores avançados de todos os
tempos do futebol mundial.
Levou Eusébio a
abrir a primeira conta num banco e, todos os meses, tratava das suas
finanças até que o adolescente se tornou adulto e constituiu família.
Juntos, dentro de campo, ajudaram o Benfica a conquistar o segundo
título de campeão europeu.
Em 1961/62, a
final da Taça dos Campeões Europeus colocou frente-a-frente Benfica e
Real Madrid. Os espanhóis chegaram ao intervalo a vencer por 3-2, com
três golos de Puskás, mas a reviravolta na segunda parte começou com um
golo de Coluna, cabendo a Eusébio fazer o resto.
Aos 17 minutos do segundo tempo, o árbitro marcou uma grande penalidade a favor do Benfica e Coluna preparava-se para cobrar o castigo máximo quando ouviu a voz tímida de Eusébio: “Senhor Coluna, posso marcar o penálti?”. Assim mesmo, com a reverência do título de senhor, Coluna acedeu ao pedido e o Pantera Negra fez o 4-3, antes de bisar e fixar o resultado final em 5-3.
E no final desse jogo em Amesterdão, o jovem Eusébio tinha mais um favor a pedir ao “senhor” Coluna. Tímido, não teve coragem de pedir a camisola do seu grande ídolo Alfredo Dí Stefano e foi Coluna
que se dirigiu ao hispano-argentino para pedir a camisola do Real
Madrid que Eusébio guardou nos calções durante os festejos e que
considera, até hoje, como um dos maiores troféus que conquistou no
futebol.
Depois da Europa, o Mundo
Foi da base do Benfica bicampeão europeu – e que perdeu as três finais seguintes, sempre com Coluna como capitão - que se construiu a seleção portuguesa que viria a brilhar na Copa do Mundo da FIFA Inglaterra 1966. Germano era o capitão da equipa, mas como não era titular, a braçadeira foi entregue a Coluna que, em terras de Sua Majestade, mostrou a classe do costume no centro do terreno, ajudou Eusébio a sagrar-se o artilheiro da competição e levou Portugal ao terceiro lugar do Mundial, feito que ainda é, até hoje, o melhor da seleção das Quinas em Copas do Mundo.
Foi da base do Benfica bicampeão europeu – e que perdeu as três finais seguintes, sempre com Coluna como capitão - que se construiu a seleção portuguesa que viria a brilhar na Copa do Mundo da FIFA Inglaterra 1966. Germano era o capitão da equipa, mas como não era titular, a braçadeira foi entregue a Coluna que, em terras de Sua Majestade, mostrou a classe do costume no centro do terreno, ajudou Eusébio a sagrar-se o artilheiro da competição e levou Portugal ao terceiro lugar do Mundial, feito que ainda é, até hoje, o melhor da seleção das Quinas em Copas do Mundo.
Depois da epopeia inglesa, Coluna
voltou para mais três épocas no Benfica, do qual se despediu em 1969/70
partindo para um ano ao serviço do Lyon. O regresso ao Estádio da Luz
aconteceu em dezembro de 1970 para um jogo de homenagem frente a uma
seleção mundial onde estavam nomes como Johan Cruyff e Bobby Moore,
entre muitas outras vedetas. Alinhou 15 minutos com a camisola
encarnada, saindo debaixo de uma enorme ovação. Estava previsto jogar
alguns minutos pela outra equipa, mas recusou-se. Afinal, não conseguia
defrontar o clube do coração.
Já era o Monstro Sagrado dos benfiquistas, o Didi Europeu como lhe chamavam os jornalistas brasileiros, ou, simplesmente, o Senhor Coluna como lhe chamava Eusébio.
Os meus sentimentos para a família. Descansa em paz, Campeão!
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